quinta-feira, 22 de julho de 2010

Não dê opinião, tampouco aconselhe,

Gostei muito deste artigo que li outro dia no jornal.
Como beneditinos, ás vezes somos chamados a dar conselhos, o que poderemos dizer as pessoas?


ARTIGOS


 por Elisabeth Meyer*


Na sexta passada, li, como sempre, a coluna do David Coimbra, dessa vez intitulada “Não dê opinião”. Que título instigante, pensei. Ao final de uma leitura atenta, eu concordava inteiramente com ele. Acompanhar os pensamentos do David me fez concatenar outros. O ser humano tem uma tendência natural a opinar e dar conselhos. Por quê? Porque temos a tendência de “querer consertar as coisas” e, por outro lado, somos, muitas vezes, “treinados” a esperar que os outros nos digam o que devemos fazer.


Aprender a não aconselhar pode suscitar uma luta interna e requer um esforço especial, principalmente para quem é prestativo e ouvinte atento. Mas não aconselhar está bem longe do evitar comprometer-se ou envolver-se. Quando alguém nos apresenta um problema, ao invés de ajudá-lo a encontrar suas próprias soluções, nossa tendência espontânea é sugerir as nossas. “Você deveria fazer...” ou “Acho que você tem que...”. Dar conselhos costuma atrapalhar mais do que ajudar, por diferentes razões. Primeiro, porque você pode não ter todas as informações necessárias, como no caso de uma doença, uma reforma ou um investimento financeiro. Em segundo lugar, talvez você não conheça a situação total e apenas perceba uma parte do problema, como na antiga parábola dos cegos que apalpam um elefante. Além disso, dar conselhos pode soar paternal e, dependendo da relação do ouvinte com os próprios genitores, ele pode acabar por perder a confiança em você sem saber exatamente por quê.


A consequência central de aconselharmos alguém é revogar a chance de que essa pessoa encontre suas próprias soluções ou resolva sozinha seus problemas futuros. Existem várias alternativas no lugar de aconselhar. Pode-se começar perguntando o que a pessoa já tentou fazer ou em que alternativas ela já pensou. É interessante que muitas vezes as pessoas não encontram uma resposta para elas mesmas, mas, se perguntarmos “o que você diria para alguém que lhe perguntasse a mesma coisa?”, costumam brotar alternativas para lidar com aquela situação.


Por último, pedir conselho é um jeito velado de passar ao outro o ônus da decisão. As eleições estão aí e milhões de brasileiros irão exercer um direito/obrigação que também se constitui num problema: decidir em quem votar. É certo que muitos pedirão conselhos a alguém, talvez você seja o escolhido. Não dê opinião. Não dê conselho. Resista. Tenha em mente que a melhor maneira de ajudar alguém a fazer uma escolha é permitir que ela busque dentro de si argumentos para escolher ou descartar determinado candidato. Distinguir e sopesar as consequências positivas e negativas da escolha é um bom exercício de crescimento e, ao fim, permite assumir os ônus – e os bônus – dessas escolhas.


*Mestre e doutora em Psiquiatria – UFRGS


Publicado no Jornal Zero Hora em 21/07/2010

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