O Principe Emanuel ia dar um baile. Enviou uma carta convidando a todos, com a única condição: o convidado devia conhecer o príncipe – um instante de conversa, o menor contato permitia a entrada no baile. A carta convida, indica o local e a hora. Além de tudo traz uma instrução precisa: baile a fantasia-traje a rigor. Os que viessem a festa deveriam se revestir dos atributos ou qualidades do outro.
Estas cartas foram divulgadas por toda a cidade, convidando para a Festa. Uma chegou à casa de um Senhor nobre. Homem de grande importância nos meios considerados, as vezes acolhia com pompa os amigos e dignitários do Príncipe. Nada, nem negócios ou problemas, o impediam de honrar, de tempos em tempos, o trono celeste.
Este Senhor, confiando como sempre em seus contatos e sua posição, se permitiu ignorar a instrução expressa na carta. “Conheço bem o Príncipe,” falou consigo mesmo, “viajei em seus carros, vi-o durante reuniões públicas, ele saberá me desculpar por esta pequena liberdade, ele compreenderá se permaneço fiel à nossa divisa “Egomet semper”- “Eu mesmo sempre”. Isso porque o Senhor sempre sentiu desgosto diante de todo disfarce.
A noite chegou e a Festa foi anunciada. Todos se prepararam e foram para o palácio. O nosso Senhor entra em seu carro. Ele brilha, é bonito, traz uma máscara, mas seu traje, embora elegante, é o mesmo de todos os dias.
Ele chega ao palácio, aproxima-se da porta. Um lacaio o detêm e o impede de entrar. Lembra-lhe a instrução da carta. O Senhor insiste, mas em vão. A única resposta é firme: “Senhor, desta vez não admito nenhuma desculpa, tudo deve ser observado conforme o rigor do convite. Antes de se inclinar diante do trono, cada um tem necessidade de virtudes, de belezas: o dom do outro.”
Ele deixa o olhar do Senhor penetrar no palácio: ao longo da Grande Sala, como nos degraus das escadas, só se vê um brilho único de trocas. Roupas, jóias, enfeites tudo o que pode contribuir para a beleza de quem deles se vestiu: um convidado traz a coragem de seu irmão, o outro a energia da esposa - e ela, um pouco mais adiante reluz vestida com a paciência do constante de seu marido. Em outro lugar, um jovem noivo vestiu a bondade sincera daquela que ele ama. Um pai traz a popularidade de seu filho, e este não se envergonha de estar vestido da sabedoria de seu pai. Ninguém ousa vir sem uma roupa diferente das vestes de sua pobreza; e são justamente estas que, dadas ao outro, não guardadas para si, manifestam-se como claras imagens do Reino.
Nosso Senhor vê, compreende. Ele tem o que lhe é próprio - tudo menos o que é admitido na festa. Seus pés justos e virtuosos descem a rua; a noite avança. Anjos acompanham o Senhor até seu carro. Eles são plenos de cortesia.
Mesmo no coração da festa um caminho de cortesia:
-Aquela que é dom de si para o outro – dom de atenção, de um instante, de uma qualidade de toda uma vida.
-Aquela que, muitas vezes esquecida é complementar da primeira – abertura agradecida para com aquele e aquela que dispõem de seus dons para mim – aceitar ser amado, amada.
-Aquela que completa todas as cortesias, que vai infinitamente além delas, a cortesia da ordem do Reino: “todo teu ser foi revestido de Cristo”.
(Charles Williams - 1886-1945)
PS: Enquanto digito este texto, meu filho está numa festa a fantasia, com uma roupa feita pela avô.
terça-feira, 27 de outubro de 2009
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