quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Votos e noviciado dos oblatos

Homilias e conferências de Padre Bernardo

MOSTEIRO TRAPISTA Nossa Senhora do Novo Mundo

Votos de Oblata de Irmã Meri

Entrada no Noviciado de Maria Helena, Saulo, Waldir e Werner

Ler o salmo 115: 10-14

Tomemos o salmista como modelo de oblato. Ele começa, como todos nós começamos, esperando encontrar a felicidade no desenrolar de sua vida. Planos, sonhos, ambições, projetos, desejos, aspirações. Os anos passam e em algum momento, o salmista pede a conta: Vamos ver o que deu, diz ele. E o que deu: "É demais o sofrimento em minha vida!" Coloquei todos os ingredientes certos e mesmo assim a sopa ficou ruim. Será que a segunda metade vai ser melhor?

"Pode durar setenta anos nossa vida, os mais fortes talvez cheguem a oitenta; a maior parte é ilusão e sofrimento. Passam depressa e também nós assim passamos."
Aonde se volta o salmista depois desta descoberta? Aos outros seres humanos, como todos nós. Minha família me fará feliz, meus amigos, minha comunidade. Sozinho, o meu sofrimento é demais, mas se os outros carregam o meu fardo, e assim cumprem a lei de Cristo...? Mais uma vez, o salmista faz uma experiência dolorosa: "Todo homem é mentiroso, todo homem!" Certamente esta descoberta demorou, porque não foi uma verdade muito bem-vinda. Não é tão difícil decepcionar-se com uma única pessoa, porque ainda há uma multidão de outras pessoas, potencialmente confiáveis, provavelmente confiáveis. Mas como é duro chegar depois de várias tentativas àquela conclusão: "Não existe mais nenhum quem faça o bem, não existe um sequer!"

Coitado do salmista. Aparentemente acabou com todas as possibilidades de felicidade: a fonte da felicidade não se encontrou nele mesmo, nem na "vida social", na convivência. E agora? Porque o salmista não toma veneno, e chega? Porque sempre tinha uma carta em reserva, um Às escondido na manga: " Guardei a minha fé." Agora está na hora de jogar esta carta.

Qual é esta carta? Invocar o Senhor, confiar no Senhor. É a carta que o salmista devia ter jogado primeiro, mas ele não é mais inteligente do que a gente. Ninguém olha primeiro para Deus como rocha da sua vida, como torre firme. Para Deus? Muito mais seguro confiar em mim mesmo e quando isto não dá certo, nas outras pessoas, sejam elas ricas, poderosas, bonitas, inteligentes ou bondosas. Sempre vem o momento quando elas se manifestam tão pobres e perdidas como a gente, e finalmente, nesta hora tardia, a gente olha para Deus, aquele Deus, que, como o filho mais jovem de Jessé, ninguém pensou em chamar para encontrar-se com Samuel e ser ungido rei.

Neste momento, nesta virada, tudo passa de desgraça para a glória. Deus, o jogador negligenciado, sempre aguardava no banco, esperando ser chamado. Chamado, ele vem, ele age, ele abençoa. "De bens ele sacia tua vida, e te tornas sempre jovem como a águia." Quando finalmente olhamos para ele como fonte da vida, não somente bebemos da torrente de suas delícias, mas percebemos (melhor tarde do que nunca) que ele sempre estava abençoando a nossa existência, oferecendo-se como alegria verdadeira e inesgotável, nos namorando, nos amando.

Uma das bênçãos mais doces, mais doce-amargas desta conversão para Deus (não uma conversão moral, mas algo mais profundo, conversão para ele como salvador) é de descobrir quantas vezes e de quantas maneiras o Senhor sempre nos estava abençoando, e não nos dávamos conta. "Na verdade o Senhor está neste lugar (o lugar da minha vida) e eu não o sabia!"

Conclusão: A conclusão é aquilo que estamos vivendo neste momento. A revelação que Deus estava sempre ao meu lado, que há no fim das contas, alguém confiável (um só, mas a gente não precisa de dois) e que é ele, leva a um êxtase de agradecimento e auto-doação: "Que poderei retribuir ao Senhor Deus, por tudo aquilo que ele fez em meu favor?" A gente olha para um presente suficientemente grande para dar ao seu Senhor, e encontra um só que satisfaz o nosso coração (Presente tem que satisfazer em primeiro lugar àquele que entrega, se vai dar contentamento àquele que o recebe): o dom de si mesmo, o dom da própria vida, reconhecida como abençoada e plenificada pelo Senhor- aquilo que o salmista chama "o cálice da minha salvação". Esta fidelidade do Senhor tocou o coração do salmista e fez jorrar dele todos os tesouros que lá se encontravam.

"Vou cumprir minhas promessas ao Senhor, na presença de seu povo reunido." Este desejo do salmista contagiou a Meri, e hoje ela se declara disposta a fazer promessas e a cumpri-las. Promessas de uma vida de oração, de uma vida de serviço, de uma vida cisterciense, de uma vida monástica no mundo. Contagiou também os seus companheiros (será que um dia teremos uma festa, "Memória de Santa Meri e Seus Companheiros"?) que vão afirmar a sua intenção de abraçar esta modo de viver, esta santa conversatio, que é nossa. De onde vêm a inspiração e a coragem para fazer isto? Do cálice da salvação. A gente bebe, e oferece. O salmista diz, "O meu cálice transborda." Para não deixar cair nenhuma gota, antes de oferecê-lo ao Senhor, a gente bebe um pouco. Que o Cálice do Senhor, cálice de amor, de entrega e de felicidade, transborde sempre na vida daquela que vai fazer os votos e daqueles que vão iniciar o seu noviciado. Que eles sempre esperem no Senhor e tenham coragem, sim, esperem no Senhor!

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